segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Limítrofes ou Funcionamento Intelectual Borderline

  


  As dificuldades intelectuais leves são de difícil diagnóstico visto que a criança apresenta um desenvolvimento evolutivo frequentemente normal nos anos iniciais, ou apenas leves atrasos no desenvolvimento psicomotor, linguagem ou inserção social. Os sintomas sutis podem passar despercebidos durante os primeiros anos e só se evidenciarem em idade escolar avançada, ou seja, entre a faixa etária dos 10 a 14 anos.
   Funcionamento Intelectual Limítrofe ou Borderline também são nomenclaturas utilizadas para definir as dificuldades intelectuais leves. São características desse quadro o atraso no desempenho cognitivo e neuropsicomotor que pode estar ligado ao comprometimento do sistema nervoso central (SNC), o que acarreta um atraso do desenvolvimento na motricidade, na linguagem e na cognição.
A etiologia pode ser decorrente de alterações anatômicas do SNC, déficits funcionais do SNC, provocados por alterações metabólicas, infecção, desnutrição, alterações hipóxico-isquêmicas ou trauma. As razões para esses comprometimentos podem ter ocorrido no período pré, peri e pós- natais.
   Para que seja feito um diagnóstico correto é necessário que se tenha certeza que os déficits tenham ocorrido ao longo do desenvolvimento e não foram adquiridos posteriormente. No âmbito da intelectualidade os prejuízos podem ocorrer na capacidade de raciocínio, planejamento, solução de problemas, abstração, juízo crítico, e é possível verificá-los pela aprendizagem acadêmica ou pela experiência.
   Há tempos atrás se utilizava apenas o sistema de Quociente Intelectual (QI) para especificar os níveis inferiores nas avaliações. Contudo, atualmente faz-se uso também de especificadores descritivos que avaliam a adaptação do indivíduo em campos ou domínios múltiplos.
   O primeiro domínio é o conceitual onde se verificam dificuldades para aprender as habilidades acadêmicas, sendo necessário apoio e grande esforço para se atingir o mínimo esperado no ano escolar que frequentam.
   O campo do domínio social é referendado por imaturidade das relações sociais, dificuldade de interpretar pistas sociais, linguagem mais concreta, inabilidade de subjetivação, limitada capacidade de percepção de riscos e propensão a serem enganados e manipulados pelos demais.
   No domínio prático se elevam a necessidade de apoio nas tarefas complexas da vida diária e, mesmo na vida adulta, a indispensabilidade de ajuda para tomar decisões nos âmbitos legais, cuidados com a saúde, bem como para aprender uma profissão de forma competente.
   O funcionamento intelectual limítrofe corresponde a um QI entre 70 e 84, sendo que, embora esse nível intelectual faça parte de uma variação normal, esses aspectos, relacionados a dificuldades funcionais, não podem ser desconsiderados.

   Com apoio apropriado, indivíduos com dificuldades intelectuais leves habitualmente podem viver sem problemas na comunidade, de modo independente ou em contextos supervisionados. Para isso, é necessário que o diagnóstico preciso seja feito o quanto antes, assim o máximo do potencial do sujeito poderá ser aproveitado. 


Fonte Inspiradora:
Dificuldades Intelectuais Leves no Desempenho Escolar e Social: Funcionamento Intelectual Borderline.
Neurologia e Aprendizagem; Rotta, Bridi Filho e Bridi, 2016.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

              O Universo Psi: Psiquiatria e Psicologia. Por onde Seguir?
              


               Durante a história da humanidade o estudo acerca dos sofrimentos mentais passou por diversas fases e momentos em que o conceito de mente e cérebro foram tidos como interligados ou independentes. Hoje a maior parte da comunidade científica adota o conceito de que cada estado mental possui uma correspondência cerebral, isto é, sentimentos e emoções refletem diretamente na fisiologia e estrutura do cérebro.
                Porém, ao se estudar as doenças mentais, sabe-se que visualmente não há diferenças estruturais entre um cérebro de um deprimido e de um esquizofrênico, então, os estudiosos voltaram sua atenção para as alterações microscópicas, ou seja, bioquímicas. Desta forma, a psiquiatria moderna aparece com os tratamentos medicamentosos para as doenças mentais.
                A psicologia clínica, em contrapartida, desenvolve-se paralelamente com as ideias de Freud e a psicanálise, porém, notava-se que as técnicas disponíveis pouco serviam para as doenças mentais graves, desta forma, a utilidade da psicologia se dava para pessoas que estão situadas entre a sanidade mental e a doença psiquiátrica. Sendo assim, a psicologia se ocuparia dos casos “mais leves” e a psiquiatria dos casos graves, tratando-os com medicamentos.
                Contudo, nota-se que na prática esta divisão não é assim tão simples. É verdadeiro que mesmo os casos mais graves podem se beneficiar com a psicologia, bem como, casos mais leves podem ter algum auxílio da psiquiatria.
                No início, como vimos, enquanto a psiquiatria se ocupou do estudo científico da estrutura do cérebro, a psicologia em contrapartida achou que não se beneficiaria deste estudo e o que aconteceu foi que a psiquiatria foi tendo uma noção clara de que seu trabalho se dava a um nível físico, em um local concreto, o cérebro, e já o psicólogo tinha a ideia de trabalhar em um campo mais abstrato, a mente, o espírito, o emocional, a personalidade, o comportamento.
                O psiquiatra passou a achar que “tudo era cérebro”, e o psicólogo “esqueceu que o cérebro existia”. Essa visão foi prejudicial para as duas profissões e especialmente para os pacientes. Na prática não há uma distinção clara entre o paciente puramente psiquiátrico e o exclusivamente do psicólogo e, boa parte dos casos, seriam melhor compreendidos se estivessem sendo tratados pelos dois.
                A tendência é que assim cheguemos a um ponto de convergência, não existirão mais duas categorias distintas e intocáveis: mente e cérebro, existirão sim duas categorias, porém completamente interligadas.
                Fármacos e terapia passam a ser vistos então como diferentes mecanismos, instrumentos para se corrigir alterações mentais e biológicas. Cabe a nós descobrir para cada caso qual das duas técnicas é a mais efetiva. Os estudos mostram que, para a maioria dos transtornos, o que produz mais resultado é a associação de ambas.
                É raro um transtorno mental puramente biológico, visto que o ambiente tem primordial força para ou desencadear ou agravar a evolução de transtornos mentais que já estariam predispostos na genética individual. Ou seja, além dos genes, alguma coisa no meio influi no surgimento da doença. Por outro lado não existe também transtornos 100% psicológicos, pessoas diferentes passando pela mesma situação estressante terão reações diferentes, isto depende em parte dos seus genes, pois estes determinarão algumas características de suas personalidades. Ou seja, para se ter um problema psicológico é necessário predisposição.
                Em suma o que cada profissional da área de saúde mental não deve perder de vista é que essa estrada possui mão dupla, cérebro e mente, concreto e abstrato, são na verdade manifestações diferentes das mesmas coisas.

Fonte: Neuropsicofarmacologia (para o estudo de Psicologia)- Autor:Fernando César Oliveira Costa


quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Distúrbio do Processamento Auditivo Central


DPAC é referido como uma dificuldade no processamento de informação auditivas em uma ou mais habilidades auditivas, é representada por uma limitação da transmissão, análise, organização, transformação, elaboração, armazenamento e/ou recuperação e uso das informações de um evento acústico não atribuídos a uma perda auditiva ou déficit intelectual.
Frequentemente a criança com DPA (Distúrbio do Processamento Auditivo) apresenta dificuldade de compreender a linguagem falada, prestar atenção, distraibilidade excessiva, dificuldade de seguir comandos verbais complexos, inabilidade de localização sonora e dificuldade de aprendizagem.
Pode ser facilmente confundido ou vir em comorbidade com distúrbios de linguagem, Transtorno de Déficit de Atenção ou Síndrome de Asperger. Portanto, pode vir isolado ou associado a outras alterações corticais.
As principais queixas escolares acerca de crianças com DPA são: “vive distraído”, “está no mundo da lua”, “só ouve quando quer”, “não presta atenção”, “não consegue aprender”.
O funcionamento adequado do sistema auditivo central e periférico é fundamental para o desenvolvimento da linguagem oral e escrita. O DPAC é característico por afetar as vias centrais da audição, áreas cerebrais relacionadas às habilidades auditivas responsáveis pelos processos desde a detecção interpretação sonoras. Assim, a pessoa ouvirá claramente a fala mas terá dificuldades em interpretar a mensagem.
Características:
·         Dificuldade de ouvir com ruídos concorrentes. Uma conversa em local barulhento exige esforço.
·         Dificuldade de localizar de onde vem o som.
·         Problemas em seguir instruções.
·         Dificuldade de entender ritmo, ênfase e entonação.
·         Distraibilidade excessiva.
·         Problemas de leitura, escrita e linguagem.
·         Escuta sons mas tem dificuldades em entendê-los, armazená-los e localizá-los.
·         Há uma deficiência neurológica que prejudica a compreensão das informações.

Quem faz o diagnóstico?
O problema pode ser detectado por professores, psicopedagos, psicólogos ou neuropsicólogos, através de testes de discriminação auditiva e observação de fatores associados, contudo, a confirmação do diagnóstico é feita pelo profissional de fonoaudiologia através de exame específico. 


Fontes Inspirativas:
www.adapt.org.br- Conheça o DPAC

Carvalho, Novelli, Colleta-Santos; Fatores na infância e adolescência que podem influenciar o processamento auditivo: Uma revisão sistemática.  2015,vol17,n.5,pp15-1603 ISSN 1516-1846      
Fonte da Imagem:   http://www.nesf.com.br/artigos/artigo_disturbio_processamento_auditivo.php                                                                                                         

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Sinais de Alerta em Desenvolvimento




Desenvolvimento é um complexo processo neuromaturacional que compreende o período embrionário até a fase adulta e tem como finalidade a aquisição de autonomia. Diferentes fatores de risco biológico e ambientais podem interferir negativamente no desenvolvimento infantil. O diagnóstico precoce e a intervenção atempada são fundamentais para maximizar o potencial desenvolvimental da criança com problemas.
Classifica-se três tipos de alterações de desenvolvimento: o atraso, o desvio e a dissociação. Igualmente preocupantes são também a paragem e a regressão do desenvolvimento.
As aquisições na área do desenvolvimento seguem geralmente um encadeamento lógico, por exemplo, antes de sentar, a acriança vai ter que controlar a cabeça, e frequentemente são os cuidadores quem primeiro percebem alguma alteração nesse quadro evolutivo. A vigilância do desenvolvimento psicomotor não deve ser separada das demais vertentes do crescimento e são avaliadas corretamente no conjunto.
atraso no desenvolvimento consiste em uma defasagem entre a idade cronológica e a idade correspondente às aquisições demonstradas, quanto mais grave o atraso, mais provável de se se ter origem orgânica, ou seja, ser causado por lesão ao Sistema Nervoso Central.
dissociação refere-se a uma diferença significativa entre várias áreas do desenvolvimento com uma área mais gravemente afetada. Exemplo disso são as crianças com paralisia cerebral que podem apresentar atraso significativo nas áreas motoras e desempenho adequado nas restantes.
desvio diz respeito a aquisição não sequencial de competências em uma ou mais áreas do desenvolvimento, por exemplo, uma criança apresentar uma linguagem expressiva muito superior à compreensão pode refletir em uma utilização não comunicativa da linguagem, característica das perturbações do espectro autista.
paragem e a regressão são respectivamente a ausência da evolução normal das aquisições e a perda das aquisições já verificadas. São sinais preocupantes e frequentemente se associam às doenças neurodegenerativas.
Os fatores de risco são situações adversas em que a criança pode estar sujeita a desenvolver problemas correlacionados posteriormente com défices em uma ou mais áreas do desenvolvimento. Podem ser fatores de risco ambientais ou biológicos. Nos fatores ambientais, a criança é genética e biologicamente normal, mas está inserida em um contexto de privação e no risco biológico, essa criança passou por situações com forte potencial para lesar o SNC. Em todos os casos a intervenção precoce pode minimizar o impacto dos diferentes fatores de risco.  
São fatores de risco biológico:
Peso de nascimento inferior a 1500g ou idade gestacional menor que 34 semanas, recém nascido leve para a idade gestacional, asfixia perianatal, índice de Apgar inferior a 3 aos 5 minutos e evidência de disfunção neurológica, necessidade de ventilação mecânica, evidência clínica de anomalias do SNC, Hiperbilirrubinémia em recém nascidos de termo, infecção congênita, meningite/ sépsis e TCE grave. 
São fatores de risco ambiental:
Família em situação de pobreza, pais adolescentes, pais com patologia psiquiátrica importante, pais toxicodependentes, pais com déficit cógnito, pais com déficit sensorial significativo, pais com perturbação antissocial, falta de estrutura e apoio familiar e social, maus tratos e negligência, crianças institucionalizadas, separação prolongada da criança.


Mês
Idade
Postura e Motricidade
Visuomotricidade
Audição e Linguagem
Comportamento e adaptação social
Ausência de tentativa de controle da cabeça na posição sentada.
Hipertonia ou Hipotonia em pé.
Nunca segue a face humana
Não vira a cabeça e olhos para o som (voz humama)
Não se mantém em situação de alerta por breves períodos
Não controla a cabeça
Mãos persistentemente fechadas
Membros rígidos em repouso
Pobreza de movimentos
Não faz contato ocular
Não fixa nem segue objetos
Sobressalto ao menor ruído
Não sorri
Chora e grita quando tocado
Ausência do controle da cabeça
Não se senta sem apoio
Membros inferiores rígidos e passagem direta à posição de pé quando se tenta sentar
Não apoia os pés no chão
Mantém reflexo de extrusão
Postura muito rígida ou muito mole
Assimetrias
Não segue objetos
Não agarra objetos com as duas mãos
Estrabismo manifesto e constante
Não responde à voz
Não responde ao seu nome
Não vocaliza
Não gosta de estar no colo de ninguém
Irritabilidade, inconsolável
Não sorri, dá gargalhadas ou tenta chamar a atenção do adulto
Desinteresse pelo ambiente
Não se senta sem apoio
Não estende os braços
Não levanta a cabeça
Sentado não usa as mãos para brincar
Não rola de decúbito ventral
Permanece sentado e imóvel sem procurar
mudar de posição
Assimetrias
Não transfere objetos de uma mão para a outra
Sem preensão palmar, não leva objetos à boca
Engasga-se com facilidade
Estrabismo
Não reage aos sons
Vocaliza monotonamente ou
perde a vocalização
Apático
Não distingue familiares
12º
Não se consegue levantar sozinho
Não gatinha (ou forma equivalente)
Não aguenta o peso nas pernas
Permanece imóvel, não procura mudar de posição
Assimetrias
Não usa gestos simples: apontar, abanar a cabeça…
Não bate dois objetos um no outro
Não tem permanência do objeto
Não aponta para objetos
Não pega nos brinquedos ou fá-lo com uma só mão
Não mastiga
Sobressalto ao
menor ruído. Não diz nenhuma palavra
Não responde à voz
Não faz gestos simples como
dizer adeus ou abanar a cabeça















Inspiração: Sinais de Alerta em Desenvolvimento (Developmental red flags)
 Teresa Mota Castelo, Boavida Fernandes
SAÚDE INFANTIL 2009 // 31 (1): 12-17 ABRIL


segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Impulsividade ou Impulsividades?


A impulsividade é uma característica presente em diversos transtornos neuropsiquiátricos. Ela é um sintoma que aparece no Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), nos transtornos disruptivos, como Transtorno Opositor Desafiante e de Conduta, no Transtorno Explosivo Intermitente, no Transtorno Afetivo Bipolar, nas Dependências Químicas, nas personalidades Histriônicas e Borderlaine, Antissocial e Narcisista.
Os atos impulsivos são executados forçosamente sem deliberação ou reflexão, sob a influência de uma pressão poderosa que restringe a liberdade de vontade do sujeito. O controle reflexivo ou a consideração de consequências estão ausentes na presença do comportamento impulsivo, assim, a pessoa que age sob esse imperativo tende a ser intempestiva em resposta a quaisquer estímulos internos e externos, sem capacidade de ponderação. Possuem atitudes e tomadas de decisões tendo por base resultados imediatos, sem pensar no que poderá vir a médio e longo prazo.
Sobre os transtornos nos quais a impulsividade exerce um papel importante é possível dividi-los em dois grupos, os que apresentam prioritariamente a perda da capacidade inibitória e outro grupo que inclui essencialmente a exacerbação dos impulsos. No primeiro grupo existe a perda da inibição por instabilidade afetiva, por deficiência das funções atencionais e executivas e por deficiência na capacidade de estabelecer empatia. No segundo grupo pode-se identificar a perda de controle sobre a agressividade, apetites e desejos. Desta forma pode-se perceber o quanto o fenômeno impulsividade é complexo e determinado por diferentes mecanismos fisiopatológicos.
Diante do exposto, pode-se constatar que não existe um tipo de impulsividade, e sim tipos diferentes de impulsividades, sendo assim, o mecanismo fisiopatológico dependerá do tipo de impulsividade apresentada.
Na impulsividade afetiva ou motivada, comum em dependentes químicos ou de certos comportamentos compulsivos como o jogo, comida, sexo, compras... encontra-se envolvido o chamado “sistema de gratificação cerebral”, que está localizado na região posterior do núcleo estriado e envolve o núcleo accumbens e área tegmentar ventral. Essas regiões em conexão com outras áreas cerebrais ativam vias cerebrais que identificam estímulos aversivos e gratificantes, bem como vias endofinérgicas, que conferem caráter hedônico, ou seja, prazeroso, além de despertamento de memórias afetivas.
Já na impulsividade do TDAH sobressaem anormalidades nas vias entre o córtex pré–frontal dorsolateral, giro do cíngulo e corpo estriado, que estão ligados à vigilância, orientação e atenção seletiva. Resulta a impulsividade ligada às funções atencionais e falhas no controle executivo.
Nos transtornos de personalidade como Borderline nota-se uma impulsividade primária, apresentada por sensibilidade exacerbada a estímulos, comportamentos precipitados e labilidade emocional. Acredita-se que isso se dá tanto por falhas tanto no processamento do córtex pré-frontal quanto no sistema límbico e conexões.
A impulsividade ligada à agressividade que aparece nos comportamentos suicidas e automutilatórios, bem como na agressividade heterodirigida, como no transtorno explosivo intermitente, acredita-se que está associada a uma atividade serotoninérgica central reduzida, sendo que o comportamento de ataque é motivado por mecanismos que  estão difusos no Sistema Nervoso Central, os circuitos envolvidos são vários, sendo o sistema serotoninérgico disfuncional leva a um indivíduo menos tolerante ao convívio social e mais impulsivo.
O último tipo de impulsividade a se comentar é a que se liga aos comportamentos antissociais. As áreas pré-frontais relacionam-se tanto ao planejamento de ações quando ao controle e motivação.  Lesões afetando estruturas basolaterais geram apatia e retraimento, enquanto que lesões no córtex pré-frontal ventromedial (CVM) levam a um quadro de liberação comportamental e conduta antissocial. O CVM é responsável pela empatia, que é a habilidade do indivíduo fazer a representação do outro através de seu córtex somatossensorial e ter a noção do este outro estaria experimentando em determinadas situações. Essa capacidade de compreender o que os indivíduos pensam e sentem é exatamente a deficiência nos indivíduos de conduta antissocial, a falta de empatia. Ainda pode-se dizer que o CVM processa a compreensão das emoções e utiliza-as na tomada de decisões.
É certo que, ainda que não em um nível de transtorno, todos nós possuímos certo grau de impulsividade em alguns momentos da vida. Com qual tipo de impulsivo você se identifica?


Fonte: Tratado de Neuropsiquiatria – Leonardo Caixeta, 2014. 

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quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Transtorno de Linguagem não é o mesmo que Dislexia

  Tenho visto uma certa confusão entre o que é chamado de Transtorno de Linguagem e o que é chamado de Dislexia. Essa confusão acontece até mesmo entre os profissionais que atuam no âmbito educacional e clinico, trabalhando com crianças que podem ter um ou outro distúrbio. 
  A dislexia, apesar de estar diretamente ligada ao conceito de linguagem, trata-se de um transtorno de aprendizagem e está restrito ao campo da leitura. Então, pessoas disléxicas encontram dificuldades preponderantes na aprendizagem e automação dos processos leitores e possuem prejuízos na precisão da leitura de palavras, velocidade, fluência da leitura e compreensão do que foi lido. Nota-se que crianças pequenas que possuem risco para o transtorno já apresentam alguns sinais antes mesmo de entrarem em contato com a leitura em si, como por exemplo, insensibilidade a rimas, dificuldades em separar sílabas, imaturidade na capacidade de pronunciar fonemas, ou seja, a permanência da chamada "conversa de bebê". 
 O transtorno de linguagem, diferentemente dos transtornos de aprendizagem, é categorizado como um dos transtornos da comunicação, juntamente com o transtorno da fala, transtorno da fluência com início na infância (gagueira) e transtorno da comunicação social (pragmática). 
  O transtorno de linguagem tem como sintomas a dificuldade persistente na aquisição e uso da linguagem, tanto falada, quanto escrita, de sinais..., vocabulário reduzido no uso e conhecimento das palavras, estrutura limitada das frases e capacidades linguísticas aquém do esperado para a idade. Esses déficits afetam no bom desempenho social e acadêmico e profissional da pessoa. 
  Crianças com esse transtorno podem ser afetadas tanto no nível da linguarem expressiva (quando ela fala), quanto receptiva (quanto ela recebe a fala do interlocutor). Na prática, pessoas com este transtorno possuem dificuldades ao encontrarem as palavras, se expressam com definições verbais pobres ou possuem compreensão limitada de sinônimos, falas com múltiplos significados ou jogos com palavras. As deficiências do discurso se evidenciam pela redução da capacidade de fornecer informações adequadas sobre eventos importantes e narrar histórias de forma coerente. 
  Tanto a dislexia do desenvolvimento quanto o transtorno de linguagem devem ocorrer no curso do desenvolvimento infantil e não é possível fazer esses diagnósticos se os problemas surgem tardiamente, porém, muitos adultos crescem passando por inúmeros infortúnios ao longo da vida sem serem diagnosticado, por isso, é importante fazer uma avaliação para a elucidação dos sintomas e tratamento adequado mesmo que seja na vida adulta. Além disso, outra coisa que não compatível com esses disgnósticos é quando os sintomas são melhor explicados por deficiências intelectuais ou sensoriais. 

  

sábado, 6 de agosto de 2016

                              Como Lidar com os Distúrbios do Sono em Crianças

        É muito frequente que os pais relatem que os filhos em idade escolar tenham algum distúrbio do sono, tal como despertar a noite ou falar durante o sono. Distúrbios desta natureza podem ser causados por uma ativação acidental do sistema de controle motor do cérebro, por uma respiração desordenada ou movimentos agitados das pernas. 
      Na maioria das vezes eles são ocasionais e desaparecem com o tempo, mas quando se tornam persistentes podem indicar um distúrbio emocional ou neurológico.
      Vamos falar um pouquinho sobre alguns tipos de problemas do sono que comumente aparecem na infância. 

  • Terror Noturno: caracterizado pelo despertar abrupto no início de uma noite de sono passando de um sono profundo para um estado de agitação em que a criança pode gritar, sentar-se, ficar ofegante e com os olhos arregalados, contudo, ela não está realmente acordada, se acalma rapidamente e na manhã seguinte não se lembra nada do episódio. Como Lidar: Não desperte a criança, se ela acordar, não faça nenhuma pergunta, apenas aconchegue-a e deixe que ela volte a dormir. Ajude a criança a dormir o suficiente e em horário regular. Crianças que dormem muito cansadas ou estão estressadas são mais vulneráveis aos terrores noturnos. 
  • Sonambulismo: caminhar e falar durante o sono são comportamentos razoavelmente comuns e embora o sonambulismo seja em si inofensivo, os sonâmbulos podem correr riscos de acidentes. Como Lidar: É melhor não interromper, uma vez que interrupções tanto do sonambulismo quanto do terror noturno pode amedrontar e confundir a criança e geralmente são fenômenos esporádicos e passageiros. Mas deve-se levar a criança de volta para a cama no colo ou caminhando e é aconselhável que se proteja a casa com cancelas no topo de escadas, grades nas janelas, sininhos na porta do quarto de maneira a saber quando a criança está fora da cama. 
  • Pesadelos: pesadelos também são comuns, contudo, quando muito frequentes ou se persistem por mais de seis semanas, é ideal que se procure um profissional para uma avaliação. Como Lidar: evitar que a criança vá para a cama muito tarde, que se deite após agitação excessiva, talvez depois de assistir um filme de terror ou ouvir histórias assustadoras. É ideal que a alimentação antes do sono seja leve, pois a digestão pesada também pode interferir neste processo. 
  • Enurese Noturna: Apesar da maioria das crianças já terem um bom controle do xixi dos três aos cinco anos, algumas apresentam a urinação involuntária e repetida à noite. Na maioria dos casos em que esse controle da bexiga se dá de maneira tardia, o problema cessa por volta dos oito anos sem ajuda de especialistas. Como Lidar: A criança não deve ser culpada ou punida, Apesar de parecer um problema causado por má vontade ou acomodação da criança, muitas vezes ele se dá devido ao tempo de desenvolvimento da criança e isso é muito particular e pode variar de caso para caso. Nenhuma punição ou recompensa ajudará a criança a vencer o problema até que o seu desenvolvimento esteja pronto. Caso a enurese persista após os oito anos, pode ser sinal de alguma dificuldade emocional, de autoestima ou outro fator, desta forma, é ideal que se procure ajuda profissional. 



                                          


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Fonte: Desenvolvimento Humano. Papalia e Feldman, 2013. 

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Algumas dicas de como ajudar no desenvolvimento emocional das crianças

Tão importante quanto aprender matemática é o aprendizado de como lidar com as emoções.
                                                     
                O processo de desenvolvimento emocional envolve o aumento da capacidade de sentir, entender e diferenciar emoções, bem como autorregulá-las, para que a pessoa se torne adaptado ao ambiente social e atingir metas presentes e futuras. Escolher entre fazer a lição de casa ou assistir o desenho na televisão, comer um chocolate naquele momento ou esperar o almoço, gastar um dinheiro com um objeto de pouco valor ou juntar por mais tempo e poder comprar um objeto de maior valor e mais desejado... São decisões que se opõem, exigem o gerenciamento do conflito entre as escolhas disponíveis e se relacionam com a capacidade de controlar os impulsos para a gratificação imediata em benefício de uma escolha que é menos imediata e automática.  
Como vivemos em sociedade, entender nossas próprias emoções e as dos outros é extremamente importante e existe uma boa parte do cérebro dedicada a isso. Emoções básicas como Alegria e Medo, diferem de emoções morais como Vergonha, Culpa e Orgulho. Compreender e administrar as emoções morais exige uma internalização das normas e princípios compartilhados pela comunidade.
           É necessário também entender as emoções de outras pessoas (Empatia), atribuir estados mentais, ou saber interpretar o que o outro está pensando (Teoria da Mente) e não menos importante é saber regular suas próprias reações emocionais, tanto as positivas quanto as negativas. Imagine a seguinte situação, uma criança fica tão empolgada e entusiasmada com um passeio que haverá na escola, que não consegue dormir e se alimentar adequadamente no dia anterior e na hora do passeio não se sente bem devido à dificuldade de lidar com a ansiedade antes do evento tão esperado. Outra situação, uma criança adora jogar bola com os colegas, mas sempre que seu time perde ou sofre um gol ela se descontrola e não consegue lidar com frustração partindo para a agressividade.
                As funções executivas, que são habilidades envolvidas na regulação de todos os processos mentais superiores como os que envolvem linguagem, memória e raciocínio lógico, também está diretamente envolvida na resolução de problemas que envolvem emoções. Por exemplo, decidir entre comer ou não comer um pedaço de bolo e furar sua dieta, pode ser mais difícil que raciocinar se um número é par ou ímpar. A diferença é que o primeiro problema tem cunho emocional e o outro é neutro. Assim, alguns autores estabelecem a diferenciação entre os aspectos das funções executivas entre “frios” e “quentes” a depender se o processo é puramente cognitivo (frio) ou se tem um caráter afetivo (quente). Apesar de ambos os mecanismos envolverem as funções executivas e o Lobo Pré-Frontal, as vias e áreas relacionadas aos processos podem ser diferentes.
                O desenvolvimento adaptável das emoções está vinculado ao bem-estar da criança e as dificuldades com a regulação emocional está relacionada com perturbações de humor e problemas comportamentais. Assim, a capacidade de inibir comportamentos inadequados, nomear e reconhecer emoções, esperar sua vez, compreender o outro, bem como encontrar soluções alternativas para um problema, está amplamente ligado ao próprio amadurecimento biológico dos lobos frontais, no entanto, essas funções podem ser trabalhadas e desenvolvidas de maneira mais efetiva ao longo do desenvolvimento.  
Algumas dicas de como ajudar no desenvolvimento emocional das crianças:
-No momento de uma crise de raiva do pequeno, ajude-o a nomear a emoção que ele está sentindo, por exemplo: “Você está sentindo raiva, pois...” Insira perguntas “Como você poderá lidar com isso? ” “Como podemos resolver este problema? ”
-Em uma situação em que algum colega se machucou e ficou triste, ajude-o a compreender o sentimento do outro. Exemplo: diante da criança chorando nomeie a emoção (tristeza) e mostre como o colega pode tentar ajudar e solidarizar-se para diminuir o desconforto do amigo.
- Brincar com figuras de expressões faciais e pedir que a criança diga o nome da emoção expressada em cada uma das figuras e pedir para ela que lembre situações em que se sentiu como a expressão da ilustração.
- Contar historinhas com situações hipotéticas e pedir que a criança atribua o sentimento ao personagem diante da cena ilustrativa.
-Diante de um conflito entre duas ou mais crianças, leve-as a refletir como o outro se sentiu diante do seu comportamento. Ou até mesmo em uma situação problema com um adulto, reflita com a criança como ela acha que você se sentiu.




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Fontes Inspirativas:
Fragoso, Intervenção em Funções Executivas, compreensão e metacompreensão de leitura em crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, São Paulo, 2014;

http://www.enciclopedia-crianca.com/funcoes-executivas/segundo-especialistas/funcao-executiva-e-desenvolvimento-emocional