segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Impulsividade ou Impulsividades?


A impulsividade é uma característica presente em diversos transtornos neuropsiquiátricos. Ela é um sintoma que aparece no Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), nos transtornos disruptivos, como Transtorno Opositor Desafiante e de Conduta, no Transtorno Explosivo Intermitente, no Transtorno Afetivo Bipolar, nas Dependências Químicas, nas personalidades Histriônicas e Borderlaine, Antissocial e Narcisista.
Os atos impulsivos são executados forçosamente sem deliberação ou reflexão, sob a influência de uma pressão poderosa que restringe a liberdade de vontade do sujeito. O controle reflexivo ou a consideração de consequências estão ausentes na presença do comportamento impulsivo, assim, a pessoa que age sob esse imperativo tende a ser intempestiva em resposta a quaisquer estímulos internos e externos, sem capacidade de ponderação. Possuem atitudes e tomadas de decisões tendo por base resultados imediatos, sem pensar no que poderá vir a médio e longo prazo.
Sobre os transtornos nos quais a impulsividade exerce um papel importante é possível dividi-los em dois grupos, os que apresentam prioritariamente a perda da capacidade inibitória e outro grupo que inclui essencialmente a exacerbação dos impulsos. No primeiro grupo existe a perda da inibição por instabilidade afetiva, por deficiência das funções atencionais e executivas e por deficiência na capacidade de estabelecer empatia. No segundo grupo pode-se identificar a perda de controle sobre a agressividade, apetites e desejos. Desta forma pode-se perceber o quanto o fenômeno impulsividade é complexo e determinado por diferentes mecanismos fisiopatológicos.
Diante do exposto, pode-se constatar que não existe um tipo de impulsividade, e sim tipos diferentes de impulsividades, sendo assim, o mecanismo fisiopatológico dependerá do tipo de impulsividade apresentada.
Na impulsividade afetiva ou motivada, comum em dependentes químicos ou de certos comportamentos compulsivos como o jogo, comida, sexo, compras... encontra-se envolvido o chamado “sistema de gratificação cerebral”, que está localizado na região posterior do núcleo estriado e envolve o núcleo accumbens e área tegmentar ventral. Essas regiões em conexão com outras áreas cerebrais ativam vias cerebrais que identificam estímulos aversivos e gratificantes, bem como vias endofinérgicas, que conferem caráter hedônico, ou seja, prazeroso, além de despertamento de memórias afetivas.
Já na impulsividade do TDAH sobressaem anormalidades nas vias entre o córtex pré–frontal dorsolateral, giro do cíngulo e corpo estriado, que estão ligados à vigilância, orientação e atenção seletiva. Resulta a impulsividade ligada às funções atencionais e falhas no controle executivo.
Nos transtornos de personalidade como Borderline nota-se uma impulsividade primária, apresentada por sensibilidade exacerbada a estímulos, comportamentos precipitados e labilidade emocional. Acredita-se que isso se dá tanto por falhas tanto no processamento do córtex pré-frontal quanto no sistema límbico e conexões.
A impulsividade ligada à agressividade que aparece nos comportamentos suicidas e automutilatórios, bem como na agressividade heterodirigida, como no transtorno explosivo intermitente, acredita-se que está associada a uma atividade serotoninérgica central reduzida, sendo que o comportamento de ataque é motivado por mecanismos que  estão difusos no Sistema Nervoso Central, os circuitos envolvidos são vários, sendo o sistema serotoninérgico disfuncional leva a um indivíduo menos tolerante ao convívio social e mais impulsivo.
O último tipo de impulsividade a se comentar é a que se liga aos comportamentos antissociais. As áreas pré-frontais relacionam-se tanto ao planejamento de ações quando ao controle e motivação.  Lesões afetando estruturas basolaterais geram apatia e retraimento, enquanto que lesões no córtex pré-frontal ventromedial (CVM) levam a um quadro de liberação comportamental e conduta antissocial. O CVM é responsável pela empatia, que é a habilidade do indivíduo fazer a representação do outro através de seu córtex somatossensorial e ter a noção do este outro estaria experimentando em determinadas situações. Essa capacidade de compreender o que os indivíduos pensam e sentem é exatamente a deficiência nos indivíduos de conduta antissocial, a falta de empatia. Ainda pode-se dizer que o CVM processa a compreensão das emoções e utiliza-as na tomada de decisões.
É certo que, ainda que não em um nível de transtorno, todos nós possuímos certo grau de impulsividade em alguns momentos da vida. Com qual tipo de impulsivo você se identifica?


Fonte: Tratado de Neuropsiquiatria – Leonardo Caixeta, 2014. 

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