Impulsividade ou Impulsividades?
A
impulsividade é uma característica presente em diversos transtornos
neuropsiquiátricos. Ela é um sintoma que aparece no Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade (TDAH), nos transtornos disruptivos, como Transtorno
Opositor Desafiante e de Conduta, no Transtorno Explosivo Intermitente, no Transtorno
Afetivo Bipolar, nas Dependências Químicas, nas personalidades Histriônicas e Borderlaine, Antissocial e Narcisista.
Os atos
impulsivos são executados forçosamente sem deliberação ou reflexão, sob a
influência de uma pressão poderosa que restringe a liberdade de vontade do
sujeito. O controle reflexivo ou a consideração de consequências estão ausentes
na presença do comportamento impulsivo, assim, a pessoa que age sob esse
imperativo tende a ser intempestiva em resposta a quaisquer estímulos internos
e externos, sem capacidade de ponderação. Possuem atitudes e tomadas de
decisões tendo por base resultados imediatos, sem pensar no que poderá vir a
médio e longo prazo.
Sobre os
transtornos nos quais a impulsividade exerce um papel importante é possível dividi-los
em dois grupos, os que apresentam prioritariamente a perda da capacidade
inibitória e outro grupo que inclui essencialmente a exacerbação dos impulsos.
No primeiro grupo existe a perda da inibição por instabilidade afetiva, por
deficiência das funções atencionais e executivas e por deficiência na
capacidade de estabelecer empatia. No segundo grupo pode-se identificar a perda
de controle sobre a agressividade, apetites e desejos. Desta forma pode-se
perceber o quanto o fenômeno impulsividade é complexo e determinado por
diferentes mecanismos fisiopatológicos.
Diante do exposto,
pode-se constatar que não existe um tipo de impulsividade, e sim tipos
diferentes de impulsividades, sendo assim, o mecanismo fisiopatológico
dependerá do tipo de impulsividade apresentada.
Na
impulsividade afetiva ou motivada, comum em dependentes químicos ou de certos
comportamentos compulsivos como o jogo, comida, sexo, compras... encontra-se
envolvido o chamado “sistema de gratificação cerebral”, que está localizado na
região posterior do núcleo estriado e envolve o núcleo accumbens e área tegmentar ventral. Essas regiões em conexão com
outras áreas cerebrais ativam vias cerebrais que identificam estímulos aversivos
e gratificantes, bem como vias endofinérgicas, que conferem caráter hedônico,
ou seja, prazeroso, além de despertamento de memórias afetivas.
Já na
impulsividade do TDAH sobressaem anormalidades nas vias entre o córtex pré–frontal
dorsolateral, giro do cíngulo e corpo estriado, que estão ligados à vigilância,
orientação e atenção seletiva. Resulta a impulsividade ligada às funções
atencionais e falhas no controle executivo.
Nos transtornos
de personalidade como Borderline nota-se
uma impulsividade primária, apresentada por sensibilidade exacerbada a
estímulos, comportamentos precipitados e labilidade emocional. Acredita-se que
isso se dá tanto por falhas tanto no processamento do córtex pré-frontal quanto
no sistema límbico e conexões.
A
impulsividade ligada à agressividade que aparece nos comportamentos suicidas e
automutilatórios, bem como na agressividade heterodirigida, como no transtorno
explosivo intermitente, acredita-se que está associada a uma atividade
serotoninérgica central reduzida, sendo que o comportamento de ataque é
motivado por mecanismos que estão difusos
no Sistema Nervoso Central, os circuitos envolvidos são vários, sendo o sistema
serotoninérgico disfuncional leva a um indivíduo menos tolerante ao convívio
social e mais impulsivo.
O último tipo
de impulsividade a se comentar é a que se liga aos comportamentos antissociais.
As áreas pré-frontais relacionam-se tanto ao planejamento de ações quando ao controle
e motivação. Lesões afetando estruturas
basolaterais geram apatia e retraimento, enquanto que lesões no córtex pré-frontal
ventromedial (CVM) levam a um quadro de liberação comportamental e conduta
antissocial. O CVM é responsável pela empatia, que é a habilidade do indivíduo
fazer a representação do outro através de seu córtex somatossensorial e ter a
noção do este outro estaria experimentando em determinadas situações. Essa
capacidade de compreender o que os indivíduos pensam e sentem é exatamente a deficiência
nos indivíduos de conduta antissocial, a falta de empatia. Ainda pode-se dizer
que o CVM processa a compreensão das emoções e utiliza-as na tomada de
decisões.
É certo que,
ainda que não em um nível de transtorno, todos nós possuímos certo grau de
impulsividade em alguns momentos da vida. Com qual tipo de impulsivo você se
identifica?
Fonte: Tratado
de Neuropsiquiatria – Leonardo Caixeta, 2014.
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