Sinais de Alerta em Desenvolvimento
Desenvolvimento é um complexo processo neuromaturacional que compreende
o período embrionário até a fase adulta e tem como finalidade a aquisição de
autonomia. Diferentes fatores de risco biológico e ambientais podem interferir
negativamente no desenvolvimento infantil. O diagnóstico precoce e a
intervenção atempada são fundamentais para maximizar o potencial
desenvolvimental da criança com problemas.
Classifica-se três tipos de alterações de desenvolvimento: o
atraso, o desvio e a dissociação. Igualmente preocupantes são também a paragem
e a regressão do desenvolvimento.
As aquisições na área do desenvolvimento seguem geralmente um
encadeamento lógico, por exemplo, antes de sentar, a acriança vai ter que
controlar a cabeça, e frequentemente são os cuidadores quem primeiro percebem
alguma alteração nesse quadro evolutivo. A vigilância do desenvolvimento
psicomotor não deve ser separada das demais vertentes do crescimento e são
avaliadas corretamente no conjunto.
O atraso no desenvolvimento consiste em uma defasagem
entre a idade cronológica e a idade correspondente às aquisições demonstradas,
quanto mais grave o atraso, mais provável de se se ter origem orgânica, ou
seja, ser causado por lesão ao Sistema Nervoso Central.
A dissociação refere-se a uma diferença significativa
entre várias áreas do desenvolvimento com uma área mais gravemente afetada.
Exemplo disso são as crianças com paralisia cerebral que podem apresentar
atraso significativo nas áreas motoras e desempenho adequado nas restantes.
O desvio diz respeito a aquisição não sequencial de
competências em uma ou mais áreas do desenvolvimento, por exemplo, uma criança
apresentar uma linguagem expressiva muito superior à compreensão pode refletir
em uma utilização não comunicativa da linguagem, característica das
perturbações do espectro autista.
A paragem e a regressão são respectivamente a ausência
da evolução normal das aquisições e a perda das aquisições já verificadas. São
sinais preocupantes e frequentemente se associam às doenças neurodegenerativas.
Os fatores de risco são situações adversas em que a
criança pode estar sujeita a desenvolver problemas correlacionados
posteriormente com défices em uma ou mais áreas do desenvolvimento. Podem ser
fatores de risco ambientais ou biológicos. Nos fatores ambientais, a criança é
genética e biologicamente normal, mas está inserida em um contexto de privação
e no risco biológico, essa criança passou por situações com forte potencial
para lesar o SNC. Em todos os casos a intervenção precoce pode minimizar o
impacto dos diferentes fatores de risco.
São
fatores de risco biológico:
Peso de nascimento inferior a 1500g ou idade gestacional menor que 34
semanas, recém nascido leve para a idade gestacional, asfixia perianatal,
índice de Apgar inferior a 3 aos 5 minutos e evidência de disfunção
neurológica, necessidade de ventilação mecânica, evidência clínica de anomalias
do SNC, Hiperbilirrubinémia em recém nascidos de termo, infecção congênita,
meningite/ sépsis e TCE grave.
São
fatores de risco ambiental:
Família em situação de pobreza, pais adolescentes, pais com patologia
psiquiátrica importante, pais toxicodependentes, pais com déficit cógnito, pais
com déficit sensorial significativo, pais com perturbação antissocial, falta de
estrutura e apoio familiar e social, maus tratos e negligência, crianças
institucionalizadas, separação prolongada da criança.
Mês
Idade
|
Postura e Motricidade
|
Visuomotricidade
|
Audição e Linguagem
|
Comportamento e adaptação social
|
1º
|
Ausência
de tentativa de controle da cabeça na posição sentada.
Hipertonia
ou Hipotonia em pé.
|
Nunca
segue a face humana
|
Não vira
a cabeça e olhos para o som (voz humama)
|
Não se
mantém em situação de alerta por breves períodos
|
3º
|
Não
controla a cabeça
Mãos
persistentemente fechadas
Membros
rígidos em repouso
Pobreza
de movimentos
|
Não faz
contato ocular
Não
fixa nem segue objetos
|
Sobressalto
ao menor ruído
|
Não
sorri
Chora e
grita quando tocado
|
6º
|
Ausência
do controle da cabeça
Não se
senta sem apoio
Membros
inferiores rígidos e passagem direta à posição de pé quando se tenta sentar
Não
apoia os pés no chão
Mantém
reflexo de extrusão
Postura
muito rígida ou muito mole
Assimetrias
|
Não
segue objetos
Não
agarra objetos com as duas mãos
Estrabismo
manifesto e constante
|
Não
responde à voz
Não
responde ao seu nome
Não
vocaliza
|
Não
gosta de estar no colo de ninguém
Irritabilidade,
inconsolável
Não
sorri, dá gargalhadas ou tenta chamar a atenção do adulto
Desinteresse
pelo ambiente
|
9º
|
Não se
senta sem apoio
Não
estende os braços
Não
levanta a cabeça
Sentado
não usa as mãos para brincar
Não
rola de decúbito ventral
Permanece
sentado e imóvel sem procurar
mudar
de posição
Assimetrias
|
Não
transfere objetos de uma mão para a outra
Sem
preensão palmar, não leva objetos à boca
Engasga-se
com facilidade
Estrabismo
|
Não
reage aos sons
Vocaliza
monotonamente ou
perde a
vocalização
|
Apático
Não
distingue familiares
|
12º
|
Não se
consegue levantar sozinho
Não
gatinha (ou forma equivalente)
Não
aguenta o peso nas pernas
Permanece
imóvel, não procura mudar de posição
Assimetrias
|
Não usa
gestos simples: apontar, abanar a cabeça…
Não
bate dois objetos um no outro
Não tem
permanência do objeto
Não
aponta para objetos
Não
pega nos brinquedos ou fá-lo com uma só mão
Não
mastiga
|
Sobressalto
ao
menor
ruído. Não diz nenhuma palavra
Não
responde à voz
|
Não faz
gestos simples como
dizer
adeus ou abanar a cabeça
|
Inspiração: Sinais de Alerta em Desenvolvimento (Developmental red
flags)
Teresa Mota Castelo, Boavida Fernandes
SAÚDE INFANTIL 2009 // 31 (1): 12-17 ABRIL
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