quinta-feira, 14 de julho de 2016

                               

Uma pessoa 100% racional seria mais assertiva em suas decisões? 

   
                                           


É corrente o pensamento de que as emoções atrapalham no desempenho do raciocínio. Dizem: “aja de cabeça fria” ou “mantenha as emoções afastadas”, indicando que o processo emocional confunde ou deturpa o curso de uma tomada de decisão. Se a emoção é prazerosa desfrutamos dela como um luxo, se é dolorosa, a temos como um intruso impertinente.
Certamente as emoções mal controladas ou desgovernadas podem trazer grandes prejuízos e ser uma das principais razões do comportamento irracional. Por exemplo, é mais provável que um doente aceite de bom grado um tratamento se lhe dissessem que ele tem 90% de dar certo, do que se for informado de que 10% das pessoas que passaram pelo mesmo tratamento faleceram. Precisamente o resultado final é exatamente o mesmo, contudo, sentimentos que surgem associados à ideia da morte levam até mesmo aos médicos, com conhecimento disponível, a rejeitarem a segunda opção.
Todavia, estudos de pacientes com lesões no lobo pré-frontal do cérebro e que perderam a capacidade de sentirem emoções passaram a se comportar de maneira irracional. Desta forma, pode-se fazer uma importante ligação entre a deficiência na tomada de decisão e a perda das emoções e sentimentos.
Na prática, doentes atingidos nesta parte do cérebro possuem uma percepção normal, sua orientação em relação a pessoas, locais, e tempo é normal, as capacidades motoras e linguísticas não foram afetadas, bem como a inteligência parecia intacta, de acordo com os testes psicológicos aplicados. Conseguem fazer cálculos ou jogar damas, mas apesar disso, suas vidas são simplesmente destroçadas, suas personalidades jamais se igualaram ao que eram antes dos acidentes ou doenças que atingiram o cérebro.
Esses pacientes têm a vida emocional empobrecida, de vez em quando podem ter rápidas explosões emocionais, mas a maior parte o tempo tais explosões não ocorria, não existem sinais de que nutrem sentimentos por outros, nem sinal de vergonha, tristeza ou angústia perante a tragédia ocorrida em suas vidas. O afeto global é descrito como superficial, tornando-os incapazes de escolher entre um melhor curso de ação, apesar de terem suas capacidades intelectuais intactas, as emoções e sentimentos estavam muito comprometidos.
Os doentes se tornam desprovidos de imaginação, destituídos de iniciativa, nunca adquirem capacidades profissionais ou hobbies, a recompensa ou punição não parece influir em seus comportamentos. Rígidos e perseverantes, falta-lhes originalidade e criatividade, eles têm a tendência de vangloriarem-se e ter uma imagem favorável acerca de si mesmos, geralmente exibem modos corretos, mas estereotipados, estavam desta forma menos aptos que os outros a sentirem prazer ou reagirem a dor, impulsos sexuais diminuídos, ausência de defeitos motores, sensoriais ou comunicativos, com a inteligência geral dentro do que seria esperado, porém, incapazes de construir uma vida apropriada acerca de seus papéis social na perspectiva de passado e futuro.
Essas pessoas, desprovidas de emoções, jamais sentem ansiedade ou agitação, ao contrário, esses sentimentos dão lugar a uma calma extrema, as emoções ficam estagnadas e o paciente é incapaz de sofrer.

Sob essa ótica, as emoções não são meramente um luxo, elas desempenham uma função na comunicação de significados a terceiros e podem ter também um papel na orientação cognitiva e noção de futuro. 


(Texto inspirado no livro O Erro de Descartes - Emoção, Razão e Cérebro Humano 
Antônio R. Damásio. )
Acesse : http://www.tabitabastos.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário