Uma pessoa 100% racional seria mais assertiva em suas decisões?

É corrente o
pensamento de que as emoções atrapalham no desempenho do raciocínio. Dizem: “aja
de cabeça fria” ou “mantenha as emoções afastadas”, indicando que o processo emocional
confunde ou deturpa o curso de uma tomada de decisão. Se a emoção é prazerosa
desfrutamos dela como um luxo, se é dolorosa, a temos como um intruso
impertinente.
Certamente as
emoções mal controladas ou desgovernadas podem trazer grandes prejuízos e ser
uma das principais razões do comportamento irracional. Por exemplo, é mais
provável que um doente aceite de bom grado um tratamento se lhe dissessem que
ele tem 90% de dar certo, do que se for informado de que 10% das pessoas que
passaram pelo mesmo tratamento faleceram. Precisamente o resultado final é
exatamente o mesmo, contudo, sentimentos que surgem associados à ideia da morte
levam até mesmo aos médicos, com conhecimento disponível, a rejeitarem a segunda
opção.
Todavia,
estudos de pacientes com lesões no lobo pré-frontal do cérebro e que perderam a
capacidade de sentirem emoções passaram a se comportar de maneira irracional.
Desta forma, pode-se fazer uma importante ligação entre a deficiência na tomada
de decisão e a perda das emoções e sentimentos.
Na prática,
doentes atingidos nesta parte do cérebro possuem uma percepção normal, sua
orientação em relação a pessoas, locais, e tempo é normal, as capacidades
motoras e linguísticas não foram afetadas, bem como a inteligência parecia
intacta, de acordo com os testes psicológicos aplicados. Conseguem fazer
cálculos ou jogar damas, mas apesar disso, suas vidas são simplesmente destroçadas,
suas personalidades jamais se igualaram ao que eram antes dos acidentes ou
doenças que atingiram o cérebro.
Esses pacientes
têm a vida emocional empobrecida, de vez em quando podem ter rápidas explosões
emocionais, mas a maior parte o tempo tais explosões não ocorria, não existem
sinais de que nutrem sentimentos por outros, nem sinal de vergonha, tristeza ou
angústia perante a tragédia ocorrida em suas vidas. O afeto global é descrito
como superficial, tornando-os incapazes de escolher entre um melhor curso de
ação, apesar de terem suas capacidades intelectuais intactas, as emoções e
sentimentos estavam muito comprometidos.
Os doentes se
tornam desprovidos de imaginação, destituídos de iniciativa, nunca adquirem
capacidades profissionais ou hobbies, a recompensa ou punição não parece influir
em seus comportamentos. Rígidos e perseverantes, falta-lhes originalidade e
criatividade, eles têm a tendência de vangloriarem-se e ter uma imagem
favorável acerca de si mesmos, geralmente exibem modos corretos, mas estereotipados,
estavam desta forma menos aptos que os outros a sentirem prazer ou reagirem a
dor, impulsos sexuais diminuídos, ausência de defeitos motores, sensoriais ou
comunicativos, com a inteligência geral dentro do que seria esperado, porém,
incapazes de construir uma vida apropriada acerca de seus papéis social na
perspectiva de passado e futuro.
Essas pessoas,
desprovidas de emoções, jamais sentem ansiedade ou agitação, ao contrário, esses
sentimentos dão lugar a uma calma extrema, as emoções ficam estagnadas e o
paciente é incapaz de sofrer.
Sob essa
ótica, as emoções não são meramente um luxo, elas desempenham uma função na
comunicação de significados a terceiros e podem ter também um papel na
orientação cognitiva e noção de futuro.
(Texto inspirado no livro O Erro de Descartes - Emoção, Razão e Cérebro Humano
Antônio R. Damásio. )
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