quarta-feira, 29 de junho de 2016

Neurologista afirma que, embora o cérebro não se interesse em identificar a origem do prazer que se tem para aquela prática, é possível, sim, substituir o hábito
Faltar constantemente na academia, dormir sempre tarde, comer doce depois do almoço, usar repetidamente a função ‘soneca’ do celular. Os hábitos – bons ou ruins – são quase inflexíveis e, uma vez cultivados, se tornam difíceis de serem quebrados. Desencadeados por algum sinal, evento ou situação, no entanto, estas práticas podem, sim, ser substituídas.
Recente pesquisa realizada por cientistas da Universidade de Duke (EUA) sugere que os hábitos deixam uma marca perene em áreas específicas do cérebro. Desta forma, alimentam nossos desejos. Para o estudo, os investigadores treinaram ratos saudáveis a terem hábitos de ingestão de açúcar de rigor variado. Durante o processo, que implicava acionar uma alavanca para ganhar os doces, foi comprovado que os animais continuavam a pressionar o objeto mesmo após os doces terem sido removidos.
Doutor Osmar José de Moraes, neurologista do Hospital Santa Catarina (SP), que também trabalha com redes neurais artificiais na Universidade de São Paulo (USP), esclarece que “seguir alguns conselhos pode auxiliar as pessoas a abandonarem vícios e hábitos antigos. Embora exijam persistência e muita dedicação, é possível ‘reprogramar’ o cérebro para abdicar de comportamentos que nos aborrecem”.
Para corrigir um hábito ruim é preciso, antes de tudo, reconhecê-lo. Pesquisadores do Departamento de Ciência do Cérebro e Cognitiva do MIT afirmam que o hábito é um ciclo composto de três etapas: o surgimento dos gatilhos que acionam determinado comportamento; uma rotina que se instaura; e, por fim, a recompensa que motivou a busca.
O especialista explica que “qualquer hábito pode ser substituído, por mais difícil que pareça. Ter ciência sobre os prejuízos que aquela determinada ação está trazendo ao seu dia a dia é o primeiro passo. Ao aceitar isso a reprogramação já esta iniciada. Seja o consumo excessivo de café, álcool ou doces, a ociosidade e o tédio causado pelo trabalho, ou, então, as desculpas para realizar atividades físicas. Tudo pode ser modificado desde que a pessoa escolha o alvo certo e, o mais importante, tenha persistência para modificar o próprio ‘drive mental’”.
Repostado de Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer. Fonte: SEGS




segunda-feira, 27 de junho de 2016

Luria e as Unidades Funcionais

Aleksandr Romanovick Luria é um nome inevitável no estudo da neuropsicologia. Ele possibilitou uma organização dos construtos acerca da atividade mental de maneira a facilitar seu estudo e entendimento. A partir do estudo psicológico de pacientes com lesões cerebrais locais, Luria descreveu o cérebro como um sistema complexo formado por unidades funcionais.
Os processos mentais humanos não estão localizados em restritas áreas do cérebro, mas ocorrem pela participação de grupos de estruturas cerebrais operando em concerto. Há bases sólidas para se distinguir três unidades funcionais básicas cuja participação se torna necessária para qualquer tipo de atividade mental. Uma unidade para regular o tono e a vigília, uma unidade para obter, processar e armazenar as informações que chegam do mundo exterior e uma unidade para programar, regular e verificar a atividade mental.
 Cada unidade apresenta sua própria estrutura hierarquizada e consiste em pelo menos três zonas corticais construídas uma acima da outra: as áreas primárias(de projeção) recebem impulsos da periferia e o enviam para ela; as secundárias(de projeção- associação), onde chegam e são processadas as informações e as terciárias (zonas de superposição) que são responsáveis pelas formas mais complexas de atividade mental.
A primeira unidade destina-se a manter um nível ótimo de tono cortical, manter o cérebro vigil. Os processos de excitação que ocorrem no córtex desperto obedecem a uma lei de intensidade, segundo a qual, todo estímulo forte evoca uma resposta forte, e tampouco o estímulo fraco acarreta uma resposta fraca. As estruturas que regulam o tono cortical estão localizadas no subcórtex e no tronco cerebral. Lesões nessas áreas do cérebro geram diminuição pronunciada do tono cortical, fadiga, sono, estados acinéticos, por vezes, estado de coma. Essa unidade é de suma importância visto que qualquer processamento adequado de informações no cérebro, é necessário que o indivíduo esteja vigíl.
A formação reticular, que é uma estrutura constituída por uma rede nervosa de neurônios interconectados situada no tronco cerebral que gera impulsos gradativos que modulam a atividade cortical. A formação reticular forma dois sistemas um ascendente e outro descendente. O ascendente manda estímulos da periferia para o sistema nervoso central e o descendente faz o caminho oposto. Suas ações ativadoras e inibitórias são ditas como não específicas, isso é, afetam todas as funções sensoriais e motoras de maneira igual. Regula os estados de sono e vigília, essa é sua principal função.

A segunda unidade funcional é a unidade destinada a receber, analisar e armazenar informações. Essa unidade localiza-se nas regiões laterais do neocórtex sobre a superfície convexa dos hemisférios, regiões posteriores do córtex ocpital (visual), temporal (auditiva) e parietal (sensorial geral).

Essa estrutura é formada por neurônios isolados  que se situam nas partes determinadas do córtex. Não atuam de acordo com o princípio de alterações graduais, e sim obedecendo à regra do "tudo ou nada", recebendo impulsos individualizados e transmitindo-os a outros grupos de neurônios. Os neurônios dessa unidade possuem grande especifidade modal, ou seja, recebem informações por modalidades: visuais, auditivas, vestibulares ou sensoriais. 
Como foi dito anteriormente, as unidades possuem uma hierarquia interna em áreas primárias, secundárias e terciárias. Os neurônios visuais da área primária da segunda unidade funcional, por exemplo, são muito específicos e respondem tão somente à estímulos visuais (gradações de cor, caráter de linhas, direção de movimento). Acima da área primária há uma superestrutura de áreas visuais secundárias (associação) que convertem a projeção e as áreas terciárias (superposição), localizadas na fronteira entre os córtices occipital, temporal e pós central, que são responsáveis por possibilitar que grupos de vários analisadores funcionem em conserto.  
Assim, a atividade gnóstica humana, nunca ocorre vinculada à uma única modalidade (visual, auditiva ou tátil) o que é resultado de uma atividade polimodal, que resulta do funcionamento combinado de um sistema completo de zonas corticais. 
A partir disso, Luria distinguiu três leis básicas do funcionamento das regiões corticais. A primeira diz respeito à sua estrutura hierárquica ilustrada pela zonas corticais primárias, secundárias e terciárias que se diferenciam progressivamente pela síntese mais complexa da informação.
A lei da especificidade decrescente, diz respeito ao fato das zonas primárias terem especificidade modal máxima, as áreas secundárias, com seus neurônios associativos possuem especificidade em grau menor e essa especificidade modal se torna ainda menor nas áreas terciárias ditas "zonas de superposição".
A terceira lei diz respeito à lateralização progressiva(crescente), segundo a qual, as áreas primárias de ambos os hemisférios têm o papel de projetoras contralaterais dos estímulos recebidos, não havendo dominância de um hemisfério sobre o outro. A situação é diferente em relação às áreas secundárias e terciárias onde vemos, por exemplo, uma maior especialização dos movimentos da mão direita, tornando o hemisfério esquerdo do cérebro dominante em pessoas destras e esse hemisfério passa a ser responsável por funções de fala enquanto o hemisfério direito, não vinculado à atividade da mão direita ou à fala, permaneceu subdominante.
O hemisfério esquerdo passa a desempenhar um papel fundamental em todas as formas superiores de atividade cognitiva ligadas à fala, tais como a percepção organizada em esquemas lógicos e memória verbal, enquanto o hemisfério direito passa a desempenhar papéis subalternos, ou nenhum papel nessas atividades. Ou seja, as funções das zonas secundárias e terciárias no hemisfério dominante passam a se diferir drasticamente das funções das mesmas zonas no outro hemisfério. Essa diferenciação dos hemisférios ligada à fala distingue radicalmente a organização do cérebro dos humanos e dos outros animais que não têm o comportamento organizado pela fala.
Porém, isso não é uma regra absoluta, visto que é possível haver pessoas com a dominância dos hemisférios compartilhada e até pessoas em que a dominância do hemisfério esquerdo é ausente.
A terceira unidade funcional programa, regula e verifica as atividades conscientes. O homem não apenas recebe estímulos do mundo exterior, ele cria intenções, formula planos e programa suas ações, inspeciona sua realização e regula seu comportamento, verifica sua atividade comparando as ações com o plano original e corrigindo os erros cometidos. Essas atividades são oriundas na parte anterior do cérebro, antes do giro pré-central. Sua via de saída é o córtex motor.
A terceira unidade também se divide em áreas primárias, secundárias e terciárias e segue as mesmas leis da segunda unidade. A grande diferença é que enquanto na segunda unidade, aferente, os processos vão das zonas primárias às terciárias, agora eles seguem um ritmo descendente, indo do nível mais alto(terciário) onde os planos motores são formados, à estrutura motora primária que envia os impulsos preparados para a periferia. Outra diferença é que essa unidade não é mais formada por zonas modalmente específicas, mas é formanda inteiramente por sistemas do tipo eferente motor e está constantemente sob a influência de estruturas da unidade aferente.


Bibliografia: Luria, A. R., Fundamentos de Neuropsicologia. Ed. da Universidade de São Paulo.

O que são dificuldades de aprendizagem?

São problemas neurológicos que afetam a capacidade do cérebro para entender, recordar ou comunicar as informações. O termo dificuldades de aprendizagem refere-se não a um único distúrbio, mas a uma ampla gama de problemas que podem afetar qualquer área do desempenho acadêmico. Raramente, elas podem ser atribuídas a uma única causa: muitos aspectos diferentes podem prejudicar o funcionamento cerebral, e os problemas psicológicos dessas crianças freqüentemente são complicados, até certo ponto, por seus ambientes doméstico e escolar. As dificuldades de aprendizagem podem ser divididas em tipos gerais, mas uma vez que, com freqüência, ocorrem em combinações – e também variam imensamente em gravidade –, pode ser muito difícil perceber o que os estudantes agrupados sob esse rótulo têm em comum. Muitas crianças com essas dificuldades possuem inteligência média e até superior, por isso, muitas vezes são taxadas de preguiçosas, desatentas e desmotivadas.
A grande marca dessa deficiência é a discrepância entre o que a criança deveria ser capaz de fazer e o que realmente faz e o que de fato todas as crianças desse grupo têm em comum é o Baixo Desempenho Inesperado. Prejuízos neurológicos podem afetar diversas áreas do funcionamento cerebral, mas as deficiências que mais tentem a causar problemas acadêmicos são aquelas que afetam a percepção visual, o processamento da linguagem, as habilidades motoras finas e a capacidade de manter o foco da atenção. Problemas pequenos nessas áreas, que muitas vezes passam despercebidos em casa, podem causar impacto no desempenho escolar.
A ciência busca a resposta para as causas das dificuldades de aprendizagem, porém, por mais estudos que se faça na área, é difícil estabelecer claramente as causas dessa deficiência. Contudo, o desenvolvimento das crianças é influenciado por sua família, escola, ambiente sociocultural, e embora, supostamente, as dificuldades de aprendizagem tenham base biológica, com frequência é o ambiente que determina a gravidade do impacto da dificuldade.